Versos otimistas como não sei fazer
Para Maria Eduarda
Hei, eu a chamei,você me viu,
eu lhe mostrei, você abriu,
dei um livro e um abraço,
"A Conquista do Espaço".
Mas não me satisfaço:
Faço-lhe mapas e traços,
corto papéis em pedaços,
brincamos e imaginamos
e nesses descompassos
nós nos entrosamos.
Lembro como se fosse agora,
quando, onde você ainda mora,
brincávamos até cansar,
e íamos até o mar
contar, na praia, histórias
criando ritos e glórias
nas margens do oceano
que era nosso cotidiano.
A praia ficou para trás,
pois já não a levo mais;
fico na tola esperança
de que essa vaga lembrança
supra a minha vontade
de ir matar a saudade
de visitá-la e de levá-la
sem quaisquer troços ou malas
praqueles longos passeios.
Mas é que agora, creio,
não posso mais fazer nada,
por você, minha afilhada;
porque estamos tão distantes,
diferente de como era antes,
que já não posso acolhê-la,
espero apenas poder vê-la
porque às vezes a tristeza
nos deixa sem qualquer defesa.
Mas não estou triste, prometo,
tenho em você um amuleto
que recheia minha memória,
que dá sentido à minha história,
que melhora um pouco tudo isso
é uma espécie de compromisso.
E desde quando eu nasci,
só agora de fato entendi
que em tudo reside uma lógica;
eu tenho enfim sobrevivido
tenho buscado algum sentido
que ainda não encontrei,
mas ainda assim eu sei
o que você sequer imagina:
mesmo que haja um caminho certo
essa busca nunca termina.