Saturday, June 27, 2009

Eu nunca consegui
escrever
nos meus melhores momentos.
Como quando estava alegre,
ou quando me pediam.
Escrever, para mim,
e, acho, para os que realmente gostam
– e precisam –
disso,
é uma forma de jogar fora
os males, a urucubaca,
ou seja lá como gostem de chamar
seus azares.
Só escrevo quando estou com raiva,
ou triste, ou entediado,
embora neste último caso
seja muito raro,
vez que nunca sinto tédio.
O tédio é uma declaração de cansaço
de si mesmo.
E eu não gosto tanto assim de mim,
mas não trocaria a minha companhia
pela de qualquer um.
De maneira que me sobram
dois momentos
para escrever:
o da raiva e o da tristeza.

Entretanto,
não adianta pensar que escrevo
só quando estou triste.
Porque a tristeza é uma condição
inerente
à minha personalidade
(Personalidade? Eu tenho isso?
Alguém tem?).
Se eu fosse escrever somente estando triste,
eu escreveria todo dia,
toda hora,
a cada instante,
na cama, no ônibus,
na faculdade, na fila do banco,
na praia, à noite,
até mesmo na privada
como o sujo Enderby.
Mas confesso
que isto
não seria nada mau.

Mas eu escrevo com mais frequência, sim,
quando estou com raiva.
Escrevo quando triste, também
mas, principalmente, quando
estou com raiva.
Escrevo para me livrar dos fantasmas
vivos e mortos
que vivem a me incomodar.

Portanto,
Não procure humor no que escrevo,
porque não sou bem-humorado.
Não procure conselhos
nas minhas letras,
porque nelas estão
minha declaração de ódio
para com este mundo
e tudo o que lhe pertence
e lhe quer pertencer.
E em relação a tudo isso,
não existe nada
mais vazio de sentido.