Wednesday, September 21, 2005

Fora agora

Frio
A noite
a fio

E só a bruma
Nem a luma,
sem cor
alguma

Um fado,
como som
de um dia cansado
que passou
e como desagradou

Thursday, September 08, 2005

Cabeça Vazia, Panela do Diabo

É verdade que o povo brasileiro não é inteligente. Por povo, como raramente me refiro, falo todo o conjunto. Toda a sociedade, desde populares, estudantes, políticos, empresários, donas-de-casa. Nós vivemos num país absorto por concepções muito mal-alicerçadas.

Diz-se que nos tempos de crise é que as coisas se revelam. Tanto as pessoas, como os fatos, as perspectivas, as idéias. Tudo se mostra muito mais nítido quando visto na escuridão, talvez por se usar os olhos mais atentos. Mas nessa fase de uma luta política - e falsa crise -, é que nós temos uma medida de como as pessoas não estão preparadas para fazer frente ao sensacionalismo.

Tal como acabei de dizer, viver num país em cuja conjuntura instaura-se uma luta política, uma briga de interesses, entra em cena a ideologia. Vivendo num país de 30 milhões de indigentes, onde os graduados não têm emprego garantido, e dono de uma imensurável concentração de renda, é notório como o Brasil é um país direcionado aos interesses de uma classe dominante. Isso ninguém nega - "rico sempre se dá bem". Seria tão estúpido, por ser tão claro, entender que nós vivemos também sob a égide de uma ideologia que só beneficia a um pensamento?!

Qualquer pessoa que conheça a História do Brasil e a de outras nações compreende como o nosso contexto não é nada complexo. Pelo contrário. Era exatamente previsível - eu mesmo já falei sobre, quando ainda usava o blog no endereço antigo. Com a mídia parcialíssima que nós temos, os brados pseudomoralista dos membros mais funestos do Congresso, que aparecem como defensores da ética e da justiça, é perigoso ver como todo mundo (todo mundo!) tem engolido o que vê na TV ou nos jornais mais claros. Ora, não dá pra você apenas ler a Folha de São Paulo e dizer que tal ou qual membro do governo é corrupto. Não dá pra dizer que o Zé Dirceu é um ladrão sedento de poder só porque saiu na capa da Veja. Nunca vi tamanha afronta à inteligência humana. E fico muito aborrecido, muito mesmo, que todos esses ataques ao governo, ao Lula, ao movimento progressista seja ecoado por quem mais os defendia, outrora. Vide as migrações para partidos radicais, e o silêncio dos intelectuais de esquerda. Mas como é tênue a linha que separa a compreensão e a análise fina da estupidez. Tenho medo do que virá. Nada mais patético do que o Lula tentar alertar o povo, afirmando que se ele cair "serão precisos mais trinta anos para que a esquerda volte ao poder", e ainda seja alvo de chacota. Pobre Lula. Pobre Zé Dirceu. Grandes histórias, que para a mediocridade tupiniquim não suportam uns adjetivos desagradáveis partindo dos velhos oligarcas da Nação.

Eis como é recebido o governo mais democrático da história do Brasil. Nunca o esporte foi visto como questão de Estado, e agora compreende-se sua importância como inclusão social, com elevações no orçamento. Nunca antes o governo patrocinou conferências como as de Saúde, Educação, Juventude, Negro, Índio, Mulheres, Cultura (...), que já reuniram milhares de brasileiros, "povão" e especialistas, discutindo juntos. A intelectualidade reacionária argumenta que conversas e conferências não resolvem nada, o negócio é ação. É o problema de um país em que o diálogo não é uma virtude a ser preservada; é o problema de décadas de uma educação que não ensina a discutir. Também nunca houve tanta liberdade política, os movimentos sociais nunca tiveram tanta voz, e tanto espaço (vide a Coordenação dos Movimentos Sociais, criada pelo próprio Lula, canal de comunicação inédito de povo-governo). Há muito tempo foi embora do país os planos desenvolvimentistas, mas retornaram de 2003 pra cá. Produz-se muito - aliás, nunca se produziu tanto, nunca se comprou tanto. Nunca antes se tomou medida concreta para acabar com a Seca. E o governo já autorizou uma medida que, com apenas 1% do Rio São Francisco fará com que 1/3 do território nacional sejam integrados. Mas isso tudo não parece argumento. Morre quando as pesquisas (quem paga as pesquisas? E quem paga a quem as paga?) demonstram que a popularidade do Lula cai a cada dia. Que fazer?, o próprio Lenin, como já fez muitas vezes, perguntaria. Tá aí a questão: fazer justamente isso. Perguntar. Por que o governo é tão atacado? Talvez por, ainda timidamente, tentar criar novo rumo para o país.

Não preciso responder. A verdade não está na boca das pessoas, mas está no cotidiano delas.