Sunday, May 22, 2011

A tua pureza

A tua pureza clara
cativa, cultiva e sara
o estranhamento do instante.
É frágil como uma erva,
e de uma beleza cortante,
o que tua face conserva.
A tua pureza rosa
diferencia-se na selva
junto à pele cheirosa,
e o meu olhar curioso
não cansa de procurar
o teu, alinhado e mimoso.
A tua pureza é doce,
e eu queria senti-la
por onde quer que fosse.
E teria em minha mochila,
a todo tempo possível,
a tua inocência pupila.
Mas tua pureza foge
do que te faria mal;
há sempre um caçador vil
procurando, esperto,
chegar cada vez mais perto
de teu corpo juvenil.
Porém, meu deleite servil
não implica interesse carnal,
meu lugar é aqui no chão,
o teu é o céu de anil.
Só queria o par de teus olhos,
os teus cabelos tão leves,
teus lábios tão sorridentes,
tua companhia tão breve.
Virtudes que em suas unidades
me valem por mais de mil.

Saturday, May 14, 2011

As perguntas travestidas

Parte I

De que me serve dinheiro,
esse recurso grosseiro,
que mais me tira que dá?

Por que sofrer dessa amarra,
nem posso tocar minha guitarra,
as coisas que gosto, não dá?

Para que me serve o lamento,
se ele não me oferece o tempo
que eu queria ter pra mim?

Qual era mesmo o momento
que eu pensava que depois dele
já me contentaria com o fim?

Para que me serve o lamento,
qual era mesmo o momento?



Parte II

Na marginal esburacada da avenida solitária da minha mente,
eu vejo me acompanharem aqueles velhos conflitos adolescentes.
Eu sinto a tensão, o medo, sou acometido pela dúvida,
pela fraqueza,
fico tímido, distante, parece que a única coisa que penso
é em dor e tristeza.
Sou questionado repetidamente a respeito do meu humor
com muitos porquês,
mas pra esse tipo de problema não há resposta, só entende
quem o antevê.
É como se sempre esperassem uma resposta curta, certa e pronta,
porém quase sempre a minha explicação os desaponta,
e eu fico parecendo bancar o incompreendido, o mal amado,
sobrevivendo a uma distância tal que menos alivia do que amedronta.
É só que não é fácil mesmo entender.



Parte III

E agora, neste poema,

o que colocar no fim?
Palavras confusas,
para fazer alguém rir?
Confusas, sem dúvida, estas serão,
a ponto, talvez, de manter o padrão,
e em meio a tantos, travesti-los de versos,
mas assim não podem transparecer,
pois os versos são reveladores,
e aqui eu não revelaria o meu ser.