Sunday, October 30, 2005

Às Portas da Percepção

A rota dos bairros decadentes da Cidade Baixa não é a preferida entre as pessoas de Natal, muito menos entre os jovens, acostumados às badalações de Ponta Negra. Mas não há melhor lugar para render-se aos prazeres da boêmia, das boas conversas e das aventuras com as tetuxes nas noites às margens do Rio Potengi.

Para o afago de algumas bebidas com alguns bons amigos, velhos ou não, nos botecos em que eu tocava (quando morava por perto, há uns anos) com a minha antiga banda, aquela chamada Cavalo Amarelo, cujo nome afastava os cristãos mais inflamados e excitava mesmo os que não gostavam do rock jovem, era uma tortura ter de chegar nos melhores ambientes tendo sempre de passar pelas rotas da marginalidade, onde nem todos são bem-vindos.

Lembro-me de quando tomei “uns tapas” duns moleques, supostos vigilantes, simplesmente por beliscar, no máximo, o joelho duma das putinhas da região enquanto conversávamos. São incompreensíveis estes personagens da noite. Em alguns casos, a pessoa só se livra dos sopapos se topar comprar um filete de baseado por uns dez contos. Não na base da pressão, eu só me acostumei mesmo aos remédios alucinógenos e chás de cogumelos, que, como dizia o guru Aldous Huxley, ajudam-nos a abrir as portas da percepção para uma visão sacramental da realidade.

E assim, se ia longe: só mesmo o bairro da Rocas, mesmo com toda a malandragem, os riscos, a promiscuidade, a irresponsabilidade, a idéia de que tudo é efêmero – ou mesmo por tudo isso –, é o ponto mais alto para exercitar a psique e ultrapassar, enfim, as portas da percepção.

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